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Masterplan Parque Linear Nelson Mandela

Atualização da paisagem urbana

A cidade do Rio de Janeiro possui uma paisagem urbana ainda ancorada na infraestrutura rodoviária produzida nas décadas de 1960 e 1970 – grandes avenidas expressas cortando a cidade, viadutos, pontes – época em que a cidade não possuia a rede de mobilidade urbana que hoje a serve: metrô, BRT, diversas linhas de ônibus, taxi, transporte por aplicativo e ciclovias. É necessário um novo entendimento sobre as infraestruturas da cidade, compreender quais as novas funções que estes elementos e espaços podem adquirir para contribuir de forma mais positiva e efetiva com a cidade.Tomemos como exemplo a infraestrutura de vias expressas e viadutos construidos na década de 1960 na cidade do Rio de Janeiro: meio século depois de inauguradas, as áreas da cidade afetadas por estes elementos seguem degradadas, abandonadas, desvalorizadas e perigosas, gerando uma deseconomia para o Município. Afinal, que caminho devemos seguir: recuperar estas infraestruturas ou resignificá-las de acordo com as novas demandas da sociedade? Nossa proposta para a Rua Nelson Mandela – criação do Parque Linear Nelson Mandela – busca equalizar a paisagem urbana de Botafogo, priorizando intervenções que consolidem sua condição contemporânea de centralidade urbana em contraposição à sua histórica condição de bairro de passagem. Trata-se de um processo de atualização do bairro de Botafogo – de 1960 para 2020 –, um processo que, exitoso, poderá ser estendido para toda a cidade do Rio de Janeiro. 


Produzir oxigênio ao invés de CO2

Botafogo é um bairro com trânsito intenso e poucas áreas públicas, como praças e parques. Sua paisagem urbana defasada em relação às suas demandas atuais causa uma série de problemas urbanos e ambientais. A Rua Nelson Mandela é um excelente exemplo desta problemática pois reúne em sua extensão todos os problemas aqui citados e, conceitualmente, as soluções. As intervenções levadas a cabo na rua desde 2005-2006 (com a construção do Piazza Verde) e em grande parte apoiada pela população local, sinaliza a direção que deve ser adotada nas áreas remanescentes do Metrô: priorizar espaços de permanência arborizados, permeáveis, prioritários para pedestres e integrados às novas edificações de uso misto. Essa qualidade de intervenção propicia o espaço público necessário para 1. enfrentar a problemática ambiental (ilha de calor, alagamentos e poluição – CO2 e sonora); 2. prover área de circulação e convívio para população residente e flutuante (que se desloca majoritariamente em transporte público) e; 3. articular novas áreas construídas, comerciais e institucionais, que sirvam de suporte aos usuários e contribuam com a ativação do espaço público (usos voltados para o parque). 


O partido urbano adotado para o Parque Linear Nelson Mandela busca equacionar parte das disfunções urbanas presentes no bairro de Botafogo. Isto posto, a dinâmica socioeconomica presente neste trecho do bairro sofrerá uma mudança radical: a infraestrutura concebida para um bairro de passagem se tornará suporte para espaços de permanência, atendendo a uma demanda reprimida desde 1981 (data em que o Metrô é inaugurado no bairro). Nos ultimos 39 anos, essa região foi se adaptando, sem nenhum planejamento, as demandas oriundas da nova condição urbana de centralidade. Os novos usos e espaços necessários para atender esse novo público se acomodaram de acordo com as ofertas que foram surgindo pouco a pouco. A ausência de entendimento, até o momento, sobre a necessidade de um olhar específicio para essa região do bairro, vem causando uma série de problemas urbanos que tornam a relação entre governo, população residente e flutuante um tanto quanto conflituosa. Por exemplo, 1. o resultado urbanístico aquém do planejado da atual praça Nelson Mandela; 2. a falta de espaços públicos e áreas seguras para criaças e idosos; 3. a poluição sonora por conta da localização e quantidade de algumas atividades comerciais, 3. a dificuldade de se caminhar nas calçadas, seja por dimensões reduzidas, insegurança, emissão de CO2 dos automóveis ou obstáculos e; 4. um excesso de vias carroçáveis em comparação com as superfícies destinadas para pedestres, são algumas das causas de conflitos entre os atores urbanos que prejudicam que a região atenda corretamente sua atual demanda de centralidade urbana. 


Desta forma, temos a impressão equivocada de que o bairro de Botafogo está no limite da capacidade de suporte de suas infraestruturas. Entretanto, conforme já mencionado anteriormente, não só Botafogo, mas diversas outras áreas da cidade do Rio de Janeiro, possuem grande potencial de transformação urbana e maximização da utilização de suas infraestruturas. Entretanto, é preciso que estas mesmas infraestrututras sejam ressignificadas para gerar outra qualidade de impacto urbano e ambiental na região em que se inserem.


Zeitgeist 

Podemos afirmar que a região onde será implantado o projeto Parque Linear Nelson Mandela, atende precariamente a população residente e flutuante do bairro (total estimado de cerca de 160 mil pessoas) no que tange a oferta de espaços públicos, acessibilidade para pedestres e quantidade, localização e perfil das atividades comerciais. Esta condição também acaba por afugentar um público que não se sente seguro nem tão pouco confortável em se deslocar e permanecer em um espaço com estas características. Ao mantermos a paisagem urbana atual, ou aceitarmos sua precariedade como única possibilidade para nossas cidades, inviabilizamos qualquer movimento que possa atrair mais pessoas para a região, pois significaria problemas e conflitos adicionais.



Ao introduzirmos os conceitos propostos para o Parque Linear Nelson Mandela nessa região, será possível atender corretamente a demanda atual e ainda ampliar a capacidade de atração de público local (do próprio bairro e adjacências) e regional (via transporte público, em especial Metrô). A partir da implementação de um grande espaço público (cerca de 12 mil m2 de praças e parque) como âncora urbana articulada aos pontos de embarque e desembarque dos modais de transporte (Metrô e ônibus) e as novas edificações a serem construídas nas áreas remanescentes do Metrô (cerca de 100 mil m2), será inserido, por todo seu perímetro, uma gama de novos espaços (de permanência e circulação de pedestres) e atividades comerciais (lojas, mercados, salas comerciais) e institucionais (segurança pública e UPA) como suporte desta nova configuração urbana. A espacialidade proposta vai permitir utilizar adequadamente a capacidade de suporte da infraestrutura da região sem sobrecarregá-la, ao contrário, sua utilização com maior intensidade será a demonstração clara da necessidade preemente de se atualizar, adequar a paisagem urbana da cidade em função do espírito do tempo .

 


Cliente: Secretaria de Estado de Transporte do Governo do Estado do Rio de Janeiro

Contrato: Proposta de Manifestação de Interesse Privado_PMI 01/2019

Local: Rua Nelson Mandela, bairro de Botafogo, Rio de Janeiro

Área: 96.268 m2 de área construída + 12.000m2 de espaço público

Data: 2020-2021

Equipe: Amaral D’avila_Engenharia de Avaliações; Terzian; EMBYÁ_Paisagens e Ecossistemas; Ambiel Advogados; Quanta Consultoria 



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