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Masterplan Leopoldina

Um novo bairro no coração do centro do Rio de Janeiro

O projeto urbano para o terreno da Leopoldina incorpora, em sua concepção, uma série de especificidades inerentes a sua condição urbana, histórica e patrimonial que, em última instância, foram responsáveis pela definição de sua morfologia. E, por estar localizado em uma área central, com vasta infraestrutura urbana instalada – conexões ferroviária, metroviária, rodoviária, redes de abastecimento (água, esgoto, gás etc.), o terreno possui alta capacidade de suporte, podendo absorver uma grande quantidade e diversidade de usos. Apesar da sua condição geográfica e urbanística favorável, o terreno não possui atualmente ocupação compatível com seu potencial urbano, não cumprindo com sua função social e econômica para a região e a cidade. São cerca de 130.000 m2 de superfície sem atividades que contribuam para a qualidade urbana da cidade, gerando mais despesas que receitas para a municipalidade.


A área de intervenção do Masterplan Leopoldina se insere dentro do limite da Área de Especial Interesse – AEIU –, operação urbana consorciada da região do porto do Rio de Janeiro, Setor R e R1. Essa nova condição urbanística permite um melhor aproveitamento do terreno, com gabarito alcançando até 108 m (ou 36 pavimentos) e taxa de ocupação de 70%. A ampliação da AEIU, incorporando o terreno da Leopoldina, viabilizou um projeto urbano com ocupação mais densa apesar das restrições de altura impostas pelo bem tombado da Estação Barão de Mauá. No entorno imediato da Estação, o gabarito deve ser limitado à altura da sua ala lateral (fachada norte, voltada para Rua Francisco Eugênio) e, a medida que se afasta do bem tombado, o gabarito aumenta progressivamente até chegar no limite da AEIU (108 m ou 36 pavimentos). A curva de crescimento do gabarito é suave e contínua, de maneira a não criar uma barreira visual para a Estação.


LIMITES

Os elementos urbanos que fazem os limites do terreno foram determinantes na organização volumétria e na definição dos acessos peatonais e viários para o Masterplan Leopoldina, garantindo ampla acessibilidade para os usos futuros. A linha férrea e a metroviária, assentadas sobre uma bela estrutura em alvenaria e aço, estão localizadas na margem sul do terreno, estabelecendo um limite físico, com implicações sonoras. Sob essa estrutura já existe uma abertura para o terreno – um acesso viário, com largura suficiente para entrada e saída de veículos –, e que será utilizada como a principal via de acesso ao projeto. Além desta passagem, será criada outra para pedestres (sob a estrutura ferroviária), próxima à Escola Nacional de Circo (que será reformada e ampliada), onde atualmente se encontra uma instalação do INSS. Esta edificação deverá ser demolida para viabilizar o novo acesso. 


Na margem leste, a Avenida Francisco Bicalho, o canal do Mangue e a Estação Leopoldina compõe a frente do terreno. Por ser uma avenida muito movimentada, evitamos utilizá-la para acesso viário ao terreno, optando pela margem sul (conforme já mencionado). Assim, liberamos toda essa frente do projeto exclusivamente para pedestres, com calçadas largas e iluminadas, garantindo caminhadas com segurança.


Na margem oeste, o Rio Trapicheiros estabelece o limite entre o terreno e a área histórica conhecida por Vila Mimosa. Junto ao rio e dentro do terreno localiza-se o Parque Arqueológico Leopoldina, estabelecido pelo IPHAN nos anos 2000, onde estão as fundações do antigo matadouro real, o depósito de resíduos sólidos da familia real, além de registros de Sambaquis. Trata-se de uma importante área de arqueologia que se soma as diversas camadas de história desta região, tornando-a referência para o estudo e entendimento da cidade. Essa área se tornará um parque público com cerca de dois hectares, com um centro de visitantes associado, provendo informações (e exposições) sobre a história do local e da região.


Cortando o terreno em duas partes, o viaduto da Linha Vermelha limita o espaço de ocupação da intervenção. Entretanto, permite localizar a nova infraestrutura viária do projeto abaixo de suas pistas elevadas, utilizando o acesso sob a linha férrea (na margem sul) para alcançar todas as edificações no interior do projeto. 


Na margem norte, o terreno encontra-se murado, sem contato com a Rua Francisco Eugênio e o Rio Maracanã (ladeado por calhas de concreto). Ao longo do muro e no interior do terreno, corre o leito ferroviário da Estação Leopoldina, o qual será mantido e utilizado para o futuro percurso do VLT (conexão com a Estação São Cristóvão), e suas áreas contíguas serão ocupadas com atividades de esporte e lazer, construindo uma nova paisagem ao longo da Rua Francisco Eugênio.


O PROJETO: BAIRRO LEOPOLDINA

A condição urbana única do terreno, uma grande área livre de 130 mil m2, junto a modais de transporte, equipamentos públicos (Quinta da Boa Vista e Maracanã) e bairros residenciais e institucionais consolidados (Cidade Nova, Rio Comprido e Tijuca), reafirmou a premissa principal do projeto Masterplan Leopoldina para criação de uma nova centralidade urbana na região, um novo bairro, articulado a outras frentes de desenvolvimento urbano, tendo o uso habitacional como principal âncora, associado a atividades educacionais, culturais, comerciais e de lazer.


O novo Bairro Leopoldina possui as vantagens locacionais de estar próximo a áreas consolidadas ou no perímetro de importantes projetos de desenvolvimento urbano (Porto Maravilha e a construção do futuro estádio do Flamengo), garantindo ao projeto – a partir de uma densidade populacional alta e diversidade de usos – um protagonismo urbano e econômico como força motriz de estímulo ao desenvolvimento desta região da cidade, contribuindo em três frentes simultaneamente: 1. Em conjunto com os investimentos realizados no projeto Porto Maravilha, estimula o desenvolvimento da frente oeste; 2. Em conjunto com o novo estádio do Flamengo, a partir das conexões peatonais entre os modais de transportes lindeiros à Leopoldina e o Estádio, cria uma nova área de desenvolvimento urbano no polígono estabelecido pelas Avenida Francisco Bicalho, Rua São Cristóvão, Quinta da Boa Vista e o terreno da Leopoldina e; 3. Em conjunto com o entorno do Sambódromo, a partir da conexão peatonal entre o terreno da Leopoldina, via Cidade Nova (Prefeitura), até a Praça da República (novo “Caminho das Lanternas”), estabelece uma nova área de desenvolvimento urbano ligada à Zona Sul (bairro das Laranjeiras, via túnel Santa Bárbara) e ao Projeto Porto Maravilha (altura Praça Santo Cristo).


PRINCÍPIOS NORTEADORES

Para estabelecer e alcançar um projeto urbano estruturado e coerente com as condições acima, alguns princípios foram estabelecidos de forma a incorporar no desenho soluções relacionadas às potencialidades e oportunidades da área. Os princípios abaixo são a base das ideias desenvolvidas no projeto urbano com relação à conectividade, espaços abertos e definição do programa de usos para cada edificação:


- Valorizar a Estação Barão de Mauá / Leopoldina

A Estação é a principal âncora histórica do masterplan, que tem sua implantação e volumetria referenciadas na escala e localização da edificação histórica. A definição dos gabaritos e o desenho das vias tem, na Estação, seu ponto de partida.


- Definir portais

Reconhecer e acentuar os pontos de entrada para o Bairro Leopoldina. Os pontos fundamentais de acesso são destacados através da criação de referências urbanas que funcionam como portais. Estes são definidos em locais estratégicos para reforçar a transição para entrada na área de projeto, enfatizando edifícios e valorizando os espaços públicos. Os principais portais de entrada são através do Boulevard Leopoldina e pela nova praça criada entre a Escola Nacional de Circo e o novo Centro de Visitantes.


- Conectividade

Promover conexões francas com o entorno, melhorando a acessibilidade e o deslocamento entre os setores, fomentando caminhadas nas áreas comerciais e de lazer.


- Rede de áreas verdes

Como parte do Masterplan Leopoldina, propõe-se uma rede de novos parques, praças, pátios, jardins elevados e ruas arborizadas, com uma ampla gama de funções e atividades, com o objetivo de proporcionar um ambiente de qualidade para os empreendimentos, com senso de lugar e identidade. Este princípio é composto pelos seguintes elementos:

_ Arborização; 

_ Jardins de chuva; 

_ Praças; 

_ Terraços jardim.


- Acessibilidade às conexões da cidade

Facilitar a acessibilidade aos principais pontos de conexão da cidade, proporcionada pelo sistema de transporte público local. 


- Definição de setores de uso misto e âncoras

O Masterplan Leopoldina está estruturado através da
definição de cinco setores de uso misto dotados de âncoras urbanas. Para ajudar a construção de senso de vizinhança, escala,
orientação e legibilidade, estas âncoras estão estrategicamente localizadas e são capazes de atrair público para atividades de
lazer, cultura e comércio. Estão inseridas no
projeto para reforçar as ligações entre os bairros e destinos, destacando visuais e fortalecendo a identidade do lugar.


SÍNTESE URBANA E PERSPECTIVAS FUTURAS

O Masterplan Leopoldina se apresenta como um modelo de requalificação urbana que respeita as complexidades históricas e patrimoniais do terreno, ao mesmo tempo em que projeta uma nova centralidade dinâmica e integrada na cidade do Rio de Janeiro. Combinando usos mistos e uma rede de espaços públicos, o projeto irá revitalizar uma área subutilizada, transformando-a em um polo de desenvolvimento econômico, social e cultural. A cuidadosa articulação entre âncoras e conexões, alinhada aos princípios de sustentabilidade e identidade local, assegura que o Bairro Leopoldina não apenas atenda às necessidades atuais da cidade, mas também se torne um referencial de urbanismo para futuras intervenções em áreas centrais com patrimônio histórico. A implementação deste projeto marca um novo capítulo na história urbana da cidade, potencializando o pleno aproveitamento dos recursos e o fortalecimento do tecido urbano, com uma visão integrada de cidade e um desenvolvimento urbano e social que acolhe a diversidade e as demandas contemporâneas.



Cliente: CCPar / Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro. Projeto elaborado com a consulta aos seguintes órgãos: SPU, IPHAN, BNDES, IFRJ, Escola Nacional de Circo, Secretaria Nacional de Habitação.

Contrato: Estudo Preliminar Urbanístico para o entorno da Estação Barão de Mauá

Local: Avenida Francisco Bicalho, s/n, Centro, Rio de Janeiro.

Área: 135.000m2

Área construida: 210.000m2

Habitação: 1600 unidades (60m2 área média)

Data: 2024-2025

Projeto desenvolvido em parceria com a arquiteta Paula Vilela (ver outros trabalhos em parceria clicando aqui)

Renders: arquiteto Célio Diniz / Base 7 (ver outros trabalhos em parceria clicando aqui)



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