MOVIMENTO PENDULAR: O GRANDE PROBLEMA
O movimento pendular é definido como o deslocamento diário de pessoas que saem de um município ou região para outro em busca de melhores condições de trabalho. O tempo de deslocamento até o emprego é um importante indicador da qualidade de vida em áreas urbanas. Todos os dias milhões de pessoas deixam suas cidades para trabalhar naquelas com a maior oferta de trabalho. Nas regiões metropolitanas este movimento é essencial para compreender as dinâmicas urbanas e do mercado de trabalho, principalmente naqueles locais onde a entrada de pessoas para estudar, trabalhar, para o lazer e outras atividades são expressivas. Dados do Censo 2010 afirmam que 96,40 % da população da Região Metropolitana do Rio realizam o movimento pendular, ou seja, precisam se deslocar diariamente. Este movimento enfraquece a economia das cidades (satélites), consome o tempo de lazer, estudo e sociabilidade da população que se desloca, demandando um grande investimento em infraestrutura urbana específica (para suportar o deslocamento) e, acima de tudo, contribui de forma inequívoca para o aumento da desigualdade social no ERJ e, principalmente, na Região Metropolitana do Rio de Janeiro.
CONSTRUIR CENTRALIDADES URBANAS: A GRANDE SOLUÇÃO
A criação de novas centralidades urbanas, ou a transformação das cidades satélites (dormitórios) em pólos de atração populacional, tem a capacidade de reduzir o movimento pendular e suas consequências nefastas para o desenvolvimento urbano e econômico da região. Para isso, é necessário o entendimento de cada municipio e a região onde se insere e quais as potencialidades podem ser exploradas através da qualificação urbanistica.
As intervenções urbanas devem prover suporte ao desenvolvimento da economia local e a qualificação dos espaços públicos com foco na população local e regional, isto é, a escala da intervenção deve ter a capacidade de também atrair pessoas de outros municípios para intensificar a dinâmica urbana local, que se traduz em mais renda, empregos e arrecadação de impostos.
PREMISSA
Por exemplo, se compreendermos a linha férrea, que atualmente conecta a Região Metropolitana do Rio e é suporte máximo ao movimento pendular, como uma linha de benefícios, isto é, a malha ferroviária em si é a provedora das qualidades necessárias ao desenvolvimento da região, tendo em cada cada estação (ou grupamento de estações) os serviços necessários e complementares a região como um todo, abrimos possibilidades para se repensar o modelo de desenvolvimento urbano centralizador em prol de novas centralidades, isto é, mais qualidade vida, mais desenvolvimento local, mais arrecadação para os municípios, mais urbanidade e, acima de tudo, mais cidades.
MESQUITA
E como a idéia de uma Linha de Benefícios se aplica a Mesquita? A cidade possui três estações em seu território. Cada uma possui qualidades e potencialidades especificas que podem contribuir na transformação de Mesquita em uma centralidade urbana.
Desta forma, a construção da cidade de Mesquita como uma centralidade urbana na região metropolitana do Rio de Janeiro passa pelo entendimento estratégico de quais usos, serviços urbanos e qualidade de espaços Mesquita pode oferecer, com características únicas e exclusivas, para seus moradores e, ao mesmo tempo, aos municípios vizinhos. Ao definir o entorno das estações de Edson Passos e Mesquita como macro-área de intervenção urbana, passamos para um segundo estágio, onde é preciso estabelecer os locais beneficiados, os programas de usos e as conexões urbanas prioritárias.
As propostas apresentadas aqui são divididas em três áreas estratégicas:
ÁREA 1: ROCHA SOBRINHO: cultura + lazer
ÁREA 2: CHATUBA: esporte + lazer
ÁREA 3: CENTRO: cultura + educação + lazer
ÁREA 1: ROCHA SOBRINHO
Condição atual
O bairro da Dinâmica é uma das regiões mais problemáticas da cidade, com grande número de residências informais, territórios dominados pelo crime organizado e pouca oferta de equipamentos públicos. O bairro é pouco permeável à circulação viária, com grande quantidade de ruas sem saída, o que facilita o domínio da região pelo crime. No bairro, somente os moradores circulam, sendo impedida a circulação de pessoas estranhas a localidade.
Propostas
Tornar o bairro da Rocha Sobrinho permeável à circulação de pedestres, viária e de ciclistas com a implantação de novas âncoras urbanas como o Parque Sarapuí, edifícios de habitação social, equipamento cultural e nova infraestrutura viária. Atrair pessoas de outras regiões, ativando a economia local, gerando empregos no bairro e aumentando a arrecadação municipal.
1. Implantar um novo acesso à Dutra na Avenida Jorge Júlio da Costa Santos, criando um binário com a Avenida Coelho da Rocha. Ambas avenidas terão acesso à Via Light, melhorando o trânsito e facilitando o acesso ao bairro. Implantação de uma ciclovia circundando todo a região;
2. Criar o Parque Sarapuí (80.000m2), um grande parque na orla do rio de mesmo nome, como o Aterro do Flamengo, com quadras de esporte, pista de skate, quiosques, área para crianças e muitas áreas verdes. O parque fará a conexão entre a Via Light e a orla ferroviária da MRS;
3. Construção de 350 unidades residenciais (7.200m2 / 1400 residentes) no terreno da Prefeitura para abrigar parte da comunidade do Sebinho, retirada para implantação do Parque Sarapuí. O pavimento térreo terá lojas voltadas para a rua, ativando o espaço público e a economia local e será construida uma grande praça pública junto ao empreendimento;
4. Construção do equipamento cultural Circo Cultural (945m2).
ÁREA 2: CHATUBA
Condição atual
A região se caracteriza como uma das áreas mais pobres e carentes da cidade, com pouca oferta de equipamentos públicos. Por conta da estação ferroviária Edson Passos, seu entorno possui uma intensa atividade comercial, mas sem infraestrutura urbana adequada. Com a implantação do Parque Municipal de Mesquita, a região tem o potencial de se colocar como uma forte centralidade urbana, atraindo pessoas de outras regiões em busca de lazer e comércio de qualidade. Entretanto, é preciso dotar a região com infraestrutura adequada.
Propostas
A região possui três âncoras urbanas: o futuro Parque Municipal de Mesquita, a Avenida Marcehal Castelo Branco (rua comecial) e a Praça da Revolução. Nossa proposta visa qualificar e interligar essas âncoras, dando suporte para as atividades existentes além da criação de novas, como a Vila Olímpica de Mesquita, um equipamento público esportivo com alcance metropolitando. A seguir, um resumo das intervenções:
1. Reurbanização da Praça da Revolução (5.520m2), com a retirada parcial dos carros, aumento da área da praça, novos equipamentos de lazer como quiosques, Cine+ (cinema na praça), brinquedos, mobiliário urbano e arborização. Criação de passagem subterrânea sob a linha férrea conectando a praça à Avenida Baronesa de Mesquita;
2. Criação do Calçadão Passos (exclusivo pedestres_13.630m2) na Avenida Marechal Castelo Branco, com a retirada dos carros e a implementação de áreas verdes, calçadas exclusivas para pedestres, brinquedos e mobiliário urbano de suporte para as atividades comerciais e de lazer;
3. Construção da Vila Olímpica de Mesquita, ao lado da estação Edson Passos, contendo duas quadras polivalentes, pista de atletismo, um conjunto de piscinas, parque arborizado e área para estacionamento. Equipamento projetado de acordo com os parâmetros nacionais para competições de futebol de salão, volei, handball, basquete, rugby, atletismo e esportes aquáticos (25.000m2).
ÁREA 3: CENTRO
Condição atual
É nesta região que se concentram as principais atividades comerciais da cidade, as instituições públicas como a Prefeitura e o Fórum, e grande parte dos equipamentos públicos. Por conta da estação Mesquita, é uma área adensada, com grande fluxo de pessoas, que chegam a região para obter assistência dos órgãos públicos ou consumir nas lojas de rua junto à estação. Apesar do grande potencial de atração de pessoas, a região não possui infraestrutura adequada que dê suporte as atividades ou que facilite a integração e conexão entre todos os equipamentos ai instalados.
Propostas
Trasformar parte da área central de Mesquita em uma superfície exclusiva para pedestres, como já acontece em diversas capitais do mundo, articulando os dois principais equipamentos públicos – Prefeitura e Fórum – aos novos prédios do Campus Universitário e do CENTEC, localizados juntos à linha férrea, e as novas edificações da Secretaria de Educação (SEMED) e a Casa do Saber (Centro de Formação de Professores). A dotação de infraestrutura urbana e a inserção de novos equipamentos e usos nessa região transformará o centro de Mesquita em uma potente centralidade com vocação cultural e educacional na região metropolitana do Rio de Janeiro.
1. Área Prefeitura
- Projeto para Anexo Administrativo (1.100m2);
- Projeto para Teatro Municipal com 240 lugares (385m2);
- Reforma edifício Prefeitura pavimento térreo (360m2)
- Adequação urbana do praça do Paço Municipal para abrigar eventos e se tornar espaço de permanência (13.850m2);
- Projeto para Escola municipal (2.400m2) no terreno posterior à Prefeitura, contíguo ao novo Anexo Administrativo;
- Projeto habitacional sustentável com 950 unidades de 60m2 (média).
2. Calçadão Mesquita (14.000m2): transformação do polígono de ruas junto à estação Mesquita em área exclusiva para pedestres. Reordenação do trânsito local para viabilizar a nova configuração urbanística;
3. Construção do novo Centro de Lutas, conforme padrões olímpicos (1.520m2);
4. Construção do prédio do Campus Universitário (8.870m2) e reforma da Praça da Telemar (5.500m2);
5. Construção do CENTEC (4.200m2), Centro de Formação Técnico de Mesquita. A edificação possui acesso tanto pelo rés do chão como pela passarela da estação (nível superior);
6. Construção da nova Secretaria de Educação (SEMED) para abrigar usos administrativos e de atendimento ao público (2.000m2).
7. Construção da Casa do Saber para abrigar um centro de formação de professores (1.000m2).
Cliente: Prefeitura Municipal de Mesquita
Local: Cidade de Mesquita (RJ)
Área: 34km2
Data: 2021-2023
Equipe: Pedro Maia, Vitor Cunha, Pedro Angelim, Thainá Lima
Colaboração projetos de arquitetura: Base Sete, Agência TBPA, Paula Vilela, Guga Ferraz, Alexandre Vogler.
Em execução.