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Estação Ferroviária Barão de Mauá

Em 2026, a Estação completará 100 anos!

Como estabelecer parâmetros para a inserção de uma nova edificação em um conjunto histórico? É possível, em um primeiro momento, determinar relações básicas de escala, proporção e volume com as edificações adjacentes. Entretanto, estas premissas não garantem que a nova intervenção seja efetivamente um diálogo entre os tempos em questão, podendo, infelizmente, se resumir em uma atitude projetual meramente complementar. Desta forma, torna-se necessário esclarecer duas vertentes distintas de entendimento e abordagem do patrimonio histórico: a restauração e a atualização.


A restauração tem a preocupação exclusiva com o resgate formal e material do período em que a obra foi concebida, aplicando para tal todas as técnicas e conceitos disponíveis. Esta postura foi inaugurada, no Brasil, quando da criação do IPHAN, na década de 30, pelos modernistas de então, fruto da compreensão da importância de preservação do valor histórico e estético, intrínseco a obra, como elementos formadores de nossa cultura. Entendiam o patrimônio como elemento isolado da cidade, um monumento a ser contemplado e admirado, sem interferências. Nasce daí uma certa espetacularização do patrimônio histórico, algo que ainda persiste até os dias de hoje, sendo reforçado e corroborado conceitualmente pela própria sociedade do espetáculo em que estamos inseridos. A precarização da cidade e das relações sociais também contribuem para o entendimento que o edificio histórico deva ser preservado dentro de uma caixa de vidro, protegido do entorno violento, com usos (naturalmente) estéreis e desconectados das demandas locais. Garantimos a estética histórica, entretanto, não exaurimos as possibilidades econômicas e culturais que o bem tombado pode trazer para a cidade, visto sua condição de refém.


A atualização, termo cunhado neste momento, abarca a noção da restauração e vai além. Surge do questionamento das infinitas possibilidades de uma edificação, independente de sua condição histórica, contribuir com a cidade. Esta visão implica no entendimento do edificio histórico como parte integrante do tecido urbano, como mais uma edificação a compor nossas ruas, como aliás sempre foi – os espanhóis atualizaram as construções incas, as construções góticas atualizaram as romanas – entretanto, sem a compreensão da dimensão histórica e estética da edificação precedente. A atualização conjumina todas estas questões, pois incorpora a edificação ao momento presente atribuindo usos compatíveis com seu entorno, entendendo seus valores espaciais (pé-direito alto, grandes vãos, materialidades) como referências contemporâneas. Um exemplo construtivo a ser a apreciado e também absorvido. Desta forma, abrimos possibilidades para, em função das demandas contemporâneas da cidade, alterarmos as configurações arquitetônicas do bem tombado, podendo adaptar e inserir novos elementos. Ao assumirmos esta postura, a discussão bem tombado torna-se uma subcategoria da disciplina do urbanismo, e não mais uma especialidade isolada, saindo assim da caixa preta dos institutos de preservação do patrimônio histórico e fazendo parte de um pensamento mais abrangente. Ao atualizarmos uma edificação estamos também atualizando a cidade. Agregamos ao edificio isolado os potenciais e possibilidades de uma cidade. A força de atração do bem tombado passa ser muito maior.


A fachada sul da Estação

Concebida como uma superfície provisória, é na fachada sul (em vermelho na imagem) que o projeto inacabado se materializa. Seu desenho é infinitamente mais simples e menos elaborado que a fachada norte, possuindo aberturas com ritmo e tamanhos diferenciados do restante da composição. Entretanto, o tratamento da superfície é o mesmo: argamassa de pó-de-pedra com coloração e textura idênticas, causando a impressão de um projeto acabado. Seu desenho provisório a categoriza como um elemento estranho à edificação, tal qual os adendos, sendo passível cogitarmos sua completa remoção. Conforme já explicitado no Relatório Final do Projeto de Recuperação e Restauro da Estação Barão de Mauá – Plano Diretor de Conservação, “Deverá ser garantido o entendimento de que o projeto não foi executado na integra, e coibida qualquer tentativa de complementação da edificação. Uma exposição permanente deverá informar ao público não só a história da ferrovia, mas como este meio de transporte influenciou o crescimento da própria urbe e o desenvolvimento regional.” Tão importante quanto restaurar e recuperar a estação Barão de Mauá, é evidenciar em sua arquitetura seu caráter provisório presente quando da sua inauguração.


Sobre a Estação Barão de Mauá (Estação Leopoldina)

O prédio da estação Barão de Mauá foi inaugurado em 1926, para abrigar as atividades administrativas do sistema ferroviário operado pela “The Leopoldina Railway”, além de servir de estação terminal de passageiros para os subúrbios do Rio de Janeiro, interior do estado, para São Paulo, Minas Gerais e Espírito Santo. O projeto arquitetônico foi desenvolvido pelo escritório dos arquitetos ingleses Robert Prentice e Anton Floderer. A edificação da Estação é composta por três blocos – principal (acesso), gare e embarque, de plantas retangulares, sobre um pavimento térreo comum (em vermelho nas imagens, as intervenções espúrias - a serem demolidas - realizadas ao longo dos anos). Fechada para passageiros desde 2002, a Estação Barão de Mauá encontra-se extremamente deteriorada, com riscos de colapso estrutural e incêndio.


Em novembro de 2022, foi celebrado contrato entre AAA e SPU para elaboração do Projeto Executivo de Arquitetura e Restauração e Complementares, que dará suporte as obras de restauração da Estação em 2024-2025.



Cliente: Secretaria de Patrimônio da União (SPU)_RJ / BSB - Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos

Local: Avenida Francisco Bicalho s/n, Rio de Janeiro, RJ.

Área: 8.500m2 (restauração) / 100.000m2 área construída (masterplan).

Data: 2005/2022 - Em andamento.

Etapa: Projeto executivo.

Projetos complementares: José Luiz Galvão (iluminação); PROJEMOL (engenharia complementar); André Freitas (cálculo estrutural); Luiza Delfino (incêndio).

Maquete: Robério Catelani e Ana Huertas.


Projeto aprovado pelo IPHAN e INEPAC.



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