O projeto de recuperação da estação da Leopoldina, que integra o plano da Prefeitura do Rio para revitalizar a região, já tem uma instalação que servirá como âncora da revitalização, na qual o Porto Maravilha será expandido em direção a São Cristóvão. A parceria da prefeitura com a União, fechada na semana passada, prevê que parte do imóvel seja ocupado por cursos técnicos a serem criados pelo Instituto Federal do Rio de Janeiro (IFRJ). A nova unidade, explica o reitor da IFRJ, Rafael Almada, seria voltada à formação de mão de obra na área de artes:
— Estamos desenhando uma proposta que prevê a oferta de 1,5mil vagas. A ideia é formar esses estudantes para trabalharem na indústria criativa, que é uma vocação da própria cidade do Rio e também da Região Portuária.
Jardim no topo
Contratado pela União, o plano de restauração da Leopoldina é do arquiteto Rodrigo Azevedo. Ele ficou responsável por planejar a restauração. após a decisão judicial movida pelo Ministério Público Federal (MPF). Para que a fachada da Leopoldina retome suas características originais de quando foi inaugurada, em novembro de 1926, serão necessárias algumas demolições.
Azevedo, que está em fase final de desenvolvimento dos projetos, estima que serão necessários R$ 40 milhões para o restauro. Segundo ele, as intervenções durariam pelo menos dois anos. Ou seja, se as obras começassem logo, seria possível concluir a reforma a tempo de comemorar o centenário da estação.
— O último pavimento foi construído entre as décadas de 1950 e 1960 e não faz parte da proposta original. O projeto prevê a demolição desse pavimento. No lugar, no topo do prédio, será implantado um Jardim — disse o arquiteto.
Anexos nos trilhos
Internamente, também há novidades previstas para o lugar. O projeto prevê a construção de quatro pequenos anexos nos trilhos, que lembram vagões de trem. Em estrutura metálica, eles devem funcionar como salas de aula e outras atividades de apoio. Segundo Azevedo, já houve uma captação de R$ 20 milhões para executar a obra com recursos de renúncia fiscal, de acordo com regras da Lei Rouanet.
— Essas estruturas serão temporárias dentro de uma estratégia de lembrar que o espaço foi uma estação. Um dos grandes problemas do Rio é o constante e contínuo apagamento da memória da cidade pela destruição de seu patrimônio material e imaterial. Recuperar esse prédio é fundamental para as novas gerações conhecerem parte da história do país — afirmou o arquiteto.
Na semana passada, em cerimônia em Brasília, a gestão da estação e dos terrenos vizinhos foram transferidas da União para a prefeitura. A ideia do prefeito Eduardo Paes é que no local, além da reforma da estação, no entorno sejam construídos um conjunto habitacional do programa Minha Casa Minha Vida e uma segunda Cidade do Samba, para abrigar as agremiações da Série Ouro do carnaval carioca.
Parte dos investimentos deve ser viabilizada por meio de Parcerias Público-Privadas (PPPs) O secretário municipal de Integração Governamental, Jorge Arraes, confirma que o município vai seguir o plano de recuperação acordado entre o governo federal e o MPF:
— Na parceria, o prédio da estação da Leopoldina continuará com a União. Esta semana, começamos a fazer uma série de reuniões com técnicos do governo federal para tratar das reformas e do futuro uso do prédio. Só então será possível ter uma estimativa mais precisa em relação aos custos. Mas o plano é licitar as obras ainda esse ano.
Arraes explicou que um dos pontos a serem esclarecidos é se os créditos de R$ 20 milhões da Lei Rouanet ainda estão disponíveis e se haveria outras fontes de recursos.
Discussão tem 11 anos
A discussão sobre a recuperação da estação vem desde 2013, quando o Ministério Público Federal move uma ação contra a Superintendência do Patrimônio da União (SPU), exigindo a execução de reformas. Em 2022, a União já foi condenada pela Justiça Federal a promover o restauro da antiga estação. Desde então, o MPF cobra o cumprimento da sentença. Na semana passada, o MPF pediu em juízo que a prefeitura formalize se usará o projeto original de restauro, já submetido também ao Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional (Iphan).
Conhecida oficialmente como Estação Barão de Mauá em homenagem ao banqueiro que implantou as primeiras ferrovias no país, a Leopoldina foi desenhada pelo arquiteto escocês Robert Pentrice, o mesmo que projetou o Palácio da Cidade, em Botafogo. A estação recebia trens da linha auxiliar, que vinha do bairro São Francisco Xavier, e de um dos ramais da extinta Estrada de Ferro Rio do Ouro. O espaço parou de receber trens urbanos em 2001, quando a Supervia decidiu concentrar as operações no ramal da Central do Brasil.
Jornal O Globo
Por Luiz Ernesto Magalhães
04/03/2024
Veja matéria completa clicando aqui. Veja o projeto clicando aqui.